Marina tinha fechado o coração pra balanço. Frase bem típica de quem se frustrou tanto em um relacionamento anterior.
Resolveu até sair com meninas, tomou trauma de homens, mas também pudera né?
Depois do estrago que o Pedro deixou qualquer mulher iria desistir do clã masculino.
Instalou um desses aplicativos de namoro e viu que conversas despretensiosas estão fora de moda.
Difícil falar de séries e cafés sem que alguém lhe peça um nudes ou foto de agora.
Por mais que não estivesse pensando em relacionamentos, ela sempre achou que qualquer envolvimento precisa antes de tudo ter alguma conexão, uma troca. Tudo começa com um bom papo.
Entre seus matches de conversas vazias tinha o João, não conversavam muito, mas ele era um dos poucos que não lhe pedia fotos, apernas indicações de séries e livros.
Lindo, culto e não é tarado? Algo deve estar errado, pensou. Mas seguiu o papo com o pé atrás e um pouco de esperança.
Com quase duas semanas de conversas. Papos sobre signos, filmes e séries, marcaram um café.
Na casa Bauducco, próximo do trabalho dela.
Dois acertos para João. O café e o local preferido de Mariana na avenida paulista.
Ele parecia tímido de início, mas o papo foi indo...
Ficaram por quase duas horas conversando enquanto tomavam um expresso com panetone na chapa.
Em alguns momentos Mariana se perdia olhando para a boca de João, pensando em quando eles intercalariam histórias e beijos, mas o desejo pelo beijo ficou só na vontade. Não aconteceu.
Veio apenas o aviso de que ele precisava ir pois o trajeto até sua casa era longo e ele dependia do metrô.
O abraço de despedida trazia consigo um aroma de frustração, Mariana voltou pra casa pensando que talvez depois de conhecê-la João achou que ela não era tudo isso que ele imaginou e preferiu ficar só campo da amizade.
Sentiu novamente sua autoestima abalada, era como um soco no estômago. Mais um depois de tantos que a vida lhe distribuía feito aviões de dinheiro no programa do Silvio Santos.
Mas para sua surpresa quando chegou em casa tinha uma mensagem do rapaz em seu celular:
“Adorei nosso café, espero poder repetir em breve. ”
Sentiu um alívio, tipo quando sal de frutas faz efeito, quase instantâneo.
Talvez o garoto realmente fosse apenas mais lerdinho, mais tímido.
João convidou Mariana pra jantar na casa dele. “Eu faço o jantar”.
Animada ela aceitou, ainda mais que ele prometeu fazer lasanha. Quem recusa uma lasanha com molho branco?
João estava mais desinibido, parece que joga melhor em território conhecido.
Mariana descobriu que João não cozinhava muito bem. O arroz estava mais junto que trabalhador em ônibus às cinco da tarde. O vinho não era dos melhores. Ainda bem que a lasanha estava gostosa.
Se passaram quase cinco anos pra Mariana assumir que não gosta do arroz dele e que prefere ela mesma escolher os vinhos.
Tem coisas que só vem com intimidade.
O João não se importa, pois ele só se lembra mesmo da frase que lhe arrancou um sorriso: Bebi o pior vinho da minha vida, no meu melhor rolê. Foi com você.
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