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MEU DIÁRIO É MINHA ORAÇÃO


Quando eu era criança frequentava a catequese aos sábados de manhã. Turma das nove com a tia Lorena.

Filho de pais católicos segui todos os ritos característicos. Inclusive fui coroinha por quase dois anos.

Rezar logo depois de acordar e antes de dormir era obrigatório.

Pela manhã orava a Deus pra iluminar o meu dia e a noite refletia e pedia perdão pelos pecados cometidos.

Fazia parte de um ritual cristão que aprendemos na igreja. O tempo foi passando e com ele minhas convicções, tanto religiosas como de forma geral foram se moldando mais a quem eu realmente sou e não por quem esperavam que eu fosse.

Hoje com um pouco mais de três décadas de erros e acertos (mais erros, admito) eu criei meus hábitos, minha rotina. Tão peculiar por ser assim... Só minha!

Continuo cristão, porém não mais católico.

Não frequento a igreja, acho que não caibo mais lá. E assim novos hábitos nasceram...

Já tem um tempo que adquiri o hábito de escrever em diário. Às vezes é engraçado falar isso pois temos muito aquele conceito de escrever confidências e começar todas as frases com “Meu querido diário”.

Mas na verdade eu escrevo como forma de me situar, de me organizar. Fazer um resumo por escrito do que quero para o meu dia, do que tenho medo, do que sou grato.

Eu preciso me lembrar de tudo aquilo que na verdade eu quero esquecer, preciso me lembrar pra não ter que viver isso de novo, para que minha caneta não tenha que escrever isso outra vez. Preciso assumir compromissos comigo mesmo.

Faz parte de quem eu sou. Eu sei que é bem clichê um escritor ter um diário como divã, mas acredito também que os clichês só são clichês por serem óbvios.

E enquanto me pegava pensando sobre isso percebi que meu diário é minha oração.
É ali que coloco meus medos, dúvidas, anseios. É ali que deposito esperança por meio de palavras, converso com Deus. Assim... Do meu jeito!

Eu nem lembro como ou quando começou, tipo o Chicó naquele filme: “Não sei, só sei que foi assim.”

Esse papo de querer achar explicação pra tudo é algo que tenho tentado deixar pra lá. Não funcionava quando eu tinha doze anos. Não é agora que vai dar certo.

Mas é que é tão complicado achar esse equilíbrio entre o que a gente quer e o que precisa. Ou acha que precisa. É tão mais fácil simplesmente escrever ideias em um papel e guardar na gaveta.

Tira todo o peso de expectativas, de certezas mais falidas que o Orkut.

Falando assim parece covardia, mas não enxergo assim. Se assim fosse, essas linhas continuariam no diário e não aqui. Palavras claustrofóbicas presas na segunda gaveta da escrivaninha. Ávidas por sair em plena sexta-feira.

Esse texto é quase um Habeas corpus para algumas ideias que não quero mais sufocar.
Já vivi situações que me senti mais perdido que a Alice, e me encontrei nas palavras (desculpe novamente pelo trocadilho clichê) pois pra mim funciona assim.

Esquisito, diferente, ou qualquer outro adjetivo eufêmico ou pejorativo não serão capazes de prender essas palavras. Não hoje!

Se por aí tem tantas pessoas que sufocam sonhos, acho que vez ou outro posso guardar palavras no papel.

Meu diário é minha oração, as palavras minha profissão.
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