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Foto do escritorJeff Ribeiro

SENTIMENTO É VIA DE MÃO DUPLA


Essa carta, texto ou sei lá que droga de nome possa receber foi algo que muito pensei em escrever, ou não. Pois sempre que pensava em começar pensava o que faria depois.

“Vou enviar?”, “Vou guardar pra mim?”, “Vai virar texto no jornal?”.

Por fim decidi escrever em um ato egoísta, um ato particular. No mínimo servirá como um exercício de escrita. Sei que pode parecer demagogia, mas de verdade não aguardo resposta. Mais que isso. Não quero.

A maior resposta foi o tempo, ou a sua fala: “Eu achei que lidaria com isso, mas não consegui.”

Nesses últimos meses, nove pra ser mais exato. Uma gestação inteira de mágoas a remoer, eu quis muito conversar contigo. Eu precisei. Tantas coisas boas aconteceram, algumas merdas no caminho também. Eu queria compartilhar, ouvir suas opiniões certeiras. Tantos vídeos que eu vi e podcasts que ouvi e por fim só queria compartilhar.

“Nossa amizade se faz a distância.” Foi o que você disse e ecoa por aqui.

Mas é que sentimento é via de mão dupla, tipo aquela avenida lá da nossa cidade que a gente caminhava às duas da manhã voltando das festinhas nos tempos de colégio. E nessa via de mão dupla parece que eu tinha que andar na mão e na contramão.

E essa era a sensação que eu tinha. Se pararmos pra pensar depois de tudo, esse sentimento nem precisa mais de validação. Só de estar ali já é pesado por demais. Eu senti que eu precisava mudar o caminho, trocar de calçada.

Apaguei o grupo que tínhamos, parei de te seguir, não fazia mais sentido. Assim como não fazia sentido na cabeça dos nossos amigos saberem que não somos mais aquela dupla que sabe tudo da vida um do outro.

Triste fim pra uma amizade de dezessete anos. Se fosse um casamento seriam bodas de rosas. Se fosse amizade teria superado.

Já pensou que a recepção que eu tive em sua casa, que eu sempre vou me lembrar com carinho você nunca teve? Que você nunca conheceu minha casa, meu novo ciclo?
Talvez nunca quis, talvez as prioridades eram outras...

Que só eu tive que receber goela abaixo essa nova vida que você construiu e perceber que talvez a imagem que eu tinha era de alguém que já não existe mais? Que aquele cara de vinte anos que ia comigo aos shows de rock e que ficava na porta de casa falando besteiras não vive nem no passado, nas lembranças. Pois estas ele faz questão de afogar.

E acho que foi aí que a gente se perdeu, nessa de achar que o presente apaga o passado, nessa de achar que amizade tem vírgulas.

— Sou seu amigo, mas não quero que seja assim na frente dos outros.
Mas isso, mas aquilo....

A vida não tem ressalvas, e se a gente precisa se espremer tanto pra estar em algum lugar, é porque ali nunca foi o nosso.

E se essa amizade precisa ser assim, cada um no seu canto com alguns áudios longos e ligações, é porque a gente aprendeu a se enganar. Achando que amizade é disfarçar o que não podemos aceitar.

Se essas diferenças são tão difíceis assim, é porque a gente ficou tanto tempo olhando no retrovisor que quando olhou pra frente o susto foi grande demais.

Depois de voltar à nossa cidade e andar por aquela mesma avenida, desta vez, porém com outros amigos e lembrar das mesmas histórias da infância.

Eu vi que ainda sou o mesmo daquela época, só um pouco mais crescido. E se isso é um problema....

Talvez o problema seja ter tentado demais.

Volto àquela avenida.

Sentimento, é via de mão dupla.
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